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Filho de Sebastião Salgado, Rodrigo desafia os limites da deficiência em sua 1ª exposição na França 2o5s6h

Seleção de 80 quadros e esculturas ficará exposta no prédio da antiga igreja do Sagrado Coração de Reims, a cerca de uma hora de Paris 1d164w

26 mai 2025 - 07h49
(atualizado às 08h15)
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Resumo
Rodrigo Salgado, filho de Sebastião Salgado, estreia sua primeira exposição na França, com 80 obras e 16 vitrais que eternizam sua arte, transformando o evento em homenagem ao pai falecido.
Rodrigo Salgado e Lélia Wanick Salgado apresentam 'Rodrigo, une vie d’artiste' a partir desta terça-feira, 27 de maio, na igreja do Sagrado Coração de Reims, hoje dessacralizada, e fica em exposição até 10 de setembro.
Rodrigo Salgado e Lélia Wanick Salgado apresentam 'Rodrigo, une vie d’artiste' a partir desta terça-feira, 27 de maio, na igreja do Sagrado Coração de Reims, hoje dessacralizada, e fica em exposição até 10 de setembro.
Foto: © Luiza Ramos\RFI / RFI

A exposição "Rodrigo, une vie d'artiste" será aberta ao público na terça-feira (27) com trabalhos de Rodrigo Salgado, 45, filho da curadora e designer Lélia Wanick Salgado e do premiado fotógrafo Sebastião Salgado, que faleceu em 23 de maio, às vésperas da estreia da exibição. O vernissage acabou se tornando uma homenagem ao fotógrafo no último sábado (24), já que Sebastião Salgado realizou a iluminação da mostra, sendo este um de seus últimos trabalhos em vida. 1a3xx

Luiza Ramos, de Reims 

Uma seleção de 80 quadros e algumas esculturas ficará exposta no prédio da antiga igreja do Sagrado Coração de Reims, a cerca de uma hora de trem de Paris, até o dia 10 de setembro.

"Rodrigo, une vie d'artiste" é uma exposição que demonstra as fases da vida de Rodrigo Salgado, que nasceu com a síndrome de Down, e aos oito anos descobriu na arte um meio de se expressar.   

Em entrevista um dia antes da morte de Sebastião Salgado, Lélia contou à RFI que Rodrigo, que mora na França desde seu nascimento, sempre foi incentivado pelo pai: "Ele prestava atenção às fotografias, a todas as exposições do Sebastião. Ele viajou para fazer reportagem com o Sebastião. Uma época ele fazia muita fotografia também".

O talento de pessoas com deficiência  3z51u

Na mesma entrevista, Lélia Salgado descreveu o prazer em expor as obras do filho mais novo e falou da importância da inclusão de pessoas com deficiência no mundo das artes.

"Eu sou curadora e cenógrafa de exposições de fotografia, mas essa é completamente diferente. (...) Eu quis mostrar essa exposição, primeiro para trazer uma felicidade enorme para ele e também para mostrar que o mundo tem que olhar os excepcionais de outra maneira. É muito importante que todo o mundo veja que eles têm talento como qualquer outra pessoa. Basta a gente ajudar para que esse talento apareça. E é muito bonito", reforçou Lélia.

Para a viúva de Salgado, a exposição mostra as fases da vida de Rodrigo de forma clara, com os contrastes e uso de muitas cores em alguns momentos mais alegres. E mais recentemente, nos últimos anos, quando Rodrigo ou a enfrentar um declínio cognitivo, afetando sua fala, e limitando sua mobilidade, a designer observou o uso de riscos mais secos e tons mais escuros, que depois foram voltando a ter cor e movimento. O que, segundo ela, significa a aceitação do filho por sua condição de motricidade reduzida nesta fase de sua vida.

Trabalho eternizado em vitrais 675y2a

Além das obras, os visitantes poderão observar 16 vitrais criados a partir dos desenhos de Rodrigo Salgado, e que permanecerão em definitivo no prédio da igreja do Sagrado Coração de Reims, hoje dessacralizada.

O processo de criação dos vitrais, que durou um ano, foi realizado pelo atelier Simon-Marq de Reims, especializado em vitrais desde 1640, como detalhou a diretora Sarah Walbaum à RFI: "A transposição do trabalho de Rodrigo para vitrais foi bastante simples, pois ele já tem em sua obra as demarcações que permitem separar as peças de vidro. Então foi simplesmente uma questão de encontrar as boas cores de vidro. Nós usamos folhas de vidro artesanais que são todas diferentes umas das outras. Escolhemos as cores, cortamos peça a peça à mão e montamos com chumbo para fazer essas 16 janelas". 

Sarah Walbaum especificou ainda que o minucioso trabalho requereu o tratamento especial do chumbo, que foi posicionado camada a camada como se fosse uma malha, para conferir a rigidez ideal ao vitral. Em seguida, procedimentos e impermeabilização foram aplicados aos vitrais que, segundo a diretora, ficarão para sempre iluminando o antigo templo católico.

O diretor do estúdio Sebastião Salgado em Paris, Fernando Eichenberg, contou este era um projeto antigo da família Salgado, já que os pais já vinham guardando os desenhos do filho mais novo e chegaram a mostrar para alguns amigos e galeristas, que ficaram encantados com a capacidade de criação de Rodrigo, e demonstravam desejo de adquirir obras do desenhista.

"O próprio artista Michel Granger [pintor francês], que acolheu Rodrigo no atelier dele, reconheceu todo o seu talento. E houve essa oportunidade de fazer esses vitrais nessa igreja dessacralizada, então veio a ideia de fazer uma exposição de todas as obras dele, mostrar junto com os vitrais (...) A vida dele é pintar, sempre foi. A ideia é mostrar os diferentes tipos de obras que ele fez ao longo da vida e são trabalhos impressionantes, são de artista mesmo", enfatizou.

Em contato "com todo tipo de arte"  1q6n62

Lélia Salgado explica que o filho sempre teve uma vida imersa em arte, o que o incentivou a criar. "Realmente é a vida do Rodrigo, a vida do nosso filho, esse filho que sempre foi tão alegre, tão satisfeito de pintar. Ele acorda 5h da manhã para pintar, ele é uma pessoa que é realmente um artista, ele só pensa nisso, ele come e vai pintar, levanta e vai pintar. É uma coisa maravilhosa", revela a mãe e curadora.

"Nossa vida sempre foi vida de arte. Eu sempre toquei piano, pintei. Sebastião é fotógrafo. O nosso filho mais velho [Juliano Salgado] é cineasta. Então o Rodrigo viveu numa casa que tem muita arte. Nossos amigos artistas sempre frequentaram muito a nossa casa. Em todas as grandes exposições o Rodrigo ia, eu levava. A gente sempre frequentou museu, exposições", disse Lélia, que também fundou com o falecido marido o Instituto Terra, dedicado à restauração florestal.

A designer revelou ainda uma amizade inusitada da vida de artista de Rodrigo: "Sabe o Chico Buarque? É muito amigo dele. Chico ia jantar lá em casa, ele chegava antes da gente chegar do trabalho. Quantas vezes eu vi o Chico com o violão ensinando ao Rodrigo e cantando para o Rodrigo. Tão bonito. (...) As pessoas vão à nossa casa e ele recebe todo mundo com tanto prazer. Um verdadeiro artista. Por isso que a gente botou 'Rodrigo, une vie d'artiste', porque é exatamente uma vida de artista, a vida do Rodrigo", concluiu Lélia Wanick Salgado.

RFI A RFI é uma rádio sa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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