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Neguinho da Beija-Flor é uma referência no mundo do samba  Foto: Divulgaçã/ AgNews

Neguinho dá adeus à Beija-Flor, mas deixa legado ao carnaval com voz marcante: "Fazendo tratamento para aguentar" 5cb65

Compositor ganhou 14 títulos com a agremiação de Nilópolis, da qual faz parte desde 1975 3w5c15

Imagem: Divulgaçã/ AgNews
  • Éros Mendes Éros Mendes
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3 mar 2025 - 11h59
(atualizado às 20h07)

"Olha a Beija-Flor aí, gente!". Não há nenhum exagero em dizer que a história da escola de Nilópolis, na Baixada Fluminense, se mistura de modo encantador com a vida de Luís Antonio Feliciano Marcondes, o Neguinho da Beija-Flor. 2s3j30

O dia 3 de março de 2025 irá marcar uma mudança profunda nesta relação de samba, amor, alegria e títulos. Por volta de 1h da madrugada, já deixando de ser segunda-feira e entrando na terça-feira, 4, terá acontecido o 50º e último carnaval do lendário cantor como puxador de samba. 

"Estou em tratamento com uma psicóloga. Ela está me dando alguns truques para aguentar esse momento", revelou Neguinho da Beija-Flor em entrevista exclusiva ao Terra.

Aos 75 anos, Neguinho deu voz aos 14 títulos conquistados pela Beija-Flor. Também tem no currículo cinco 'Estandarte de Ouro', prêmio criado pelo jornal O Globo para os destaques dos desfiles das escolas de samba, na categoria de 'melhor intérprete'. "Fiz tudo o que eu queria fazer. Deus foi bom demais para mim", completou ele, bastante emocionado. 

Neguinho da Beija-Flor está na Beija-Flor desde 1975
Neguinho da Beija-Flor está na Beija-Flor desde 1975
Foto: Divulgação/Rio News

Emoção, essa é a palavra que define os sentimentos da voz marcante do carnaval carioca, como eles mesmo destaca. "Desses 50 anos de carnaval, foi o meu ensaio técnico mais emocionante! Pude estar perto da minha comunidade, do meu público fiel, e não sabia que tantas pessoas me amavam assim", declarou Neguinho, em seu perfil oficial no Instagram, no início de fevereiro deste ano.

A despedida do intérprete de voz potente e carisma singular marcará ainda uma extraordinária homenagem a Laíla, morto em 2021 em decorrência da Covid-19, e que foi um verdadeiro ícone da agremiação. Laíla era extremamente próximo a Neguinho. "Eu ia parar em 2024, mas aí eu vou ter que parar em 2025, porque eu não posso deixar de homenagear esse grande amigo, irmão, meu primeiro produtor", contou em entrevista, tão logo anunciou sua aposentadoria do carnaval, em novembro de 2024.

Dessa maneira, o enredo “Laíla de todos os santos, Laíla de todos os Sambas”, será o último entoado por Neguinho oficialmente, fazendo um tributo ao amigo Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, que foi um dos principais diretores de carnaval da Azul e Branco de Nilópolis, onde trabalhou por quase 30 anos.

'Elegante, humilde e inspiração' 3z1ts

Referência incontestável para a comunidade e os demais membros da escola do coração, Neguinho inspira as pessoas que convivem com ele no dia a dia.  O cantor é altamente reverenciado, para além da capacidade técnica, mas muito por conta do tratamento que despende aos colegas. 

Neguinho da Beija-Flor é homenageado e vai às lágrimas durante despedida na quadra da escola
Neguinho da Beija-Flor é homenageado e vai às lágrimas durante despedida na quadra da escola
Foto: Victor Chapetta/Agnews

"São 22 anos de Beija-Flor e convivi muito com ele. O Neguinho chegava cedo na quadra e ficava jogando cartas com a gente. Ele gosta de ficar com a comunidade, com a bateria... ele tem muita simplicidade. Pensar a escola sem ele, a partir de agora, vai ser muito difícil, mesmo que venha outra pessoa. Ele é uma inspiração para a vida", contou Xandão Cuíca, percussionista da Azul e Branco.  

Figura marcante da agremiação, a porta-bandeira Selminha Sorriso tem Neguinho como ídolo, como ela mesma definiu. Ver o artista recebendo tanto reconhecimento, mesmo considerando ser difícil trilhar os caminhos sem a presença do mestre, desperta uma sensação de gratidão.

"Ver um cara preto, em uma posição tão incrível, e cantando daquele jeito, despertou a minha paixão pelo carnaval", explica Ane Lopes, intérprete da escola e que acompanhará Neguinho no desfile deste ano, entoando "Laíla de Todos os Santos, Laíla de Todos os Sambas", nome do enredo escolhido para o show na avenida. "O que eu levo para a minha vida, que o Neguinho me ensinou, é a elegância. Eu quero ser tão humilde quanto ele é, e com a elegância, claro". 

Serginho Aguiar, além de estar caracterizado e representando Laíla, ícone da Beija-Flor que morreu em 2021 em função da Covid-19, também é um dos compositores do samba que homenageará o baluarte. Para ele, o fato de Neguinho estar encerrando tamanha trajetória estando saudável, torna tudo ainda mais especial. "Ele vai poder se despedir com saúde, com dignidade e com a responsabilidade pelo o que ele representa para o mundo do samba". 

Sambas antológicos z336o

Se futebol e carnaval são as maiores referências de identidade cultural do Brasil, Neguinho da Beija-Flor, com o seu lauto talento, não poderia ser protagonista da festa da avenida e ficar de fora do show das arquibancadas. E no esporte mais popular do país, com milhões de torcedores de Norte a Sul e rivalidades acirradas, o samba “O Campeão” (Meu time), já foi entoado como trilha sonora da emoção em diversos - para não dizer todos - os estádios do Brasil.

"Domingo eu vou ao Maracanã, vou torcer pro time que sou fã...". Lançado em 1979, o samba é a maior composição de Neguinho fora do carnaval, embora a música embale, por diversas vezes, a concentração da Beija-Flor antes dos desfiles. "Dei um compacto para um amigo que trabalhava no som do Maracanã e mandei distribuir milhares de panfletos com a letra. Nesse dia, a música tocou e todo mundo cantou", lembrou o artista em uma declaração à imprensa, em 2008.

Neguinho da Beija-Flor durante apuração
Neguinho da Beija-Flor durante apuração
Foto: Rio News/ Divulgação

Pela escola do coração, destaca-se o samba "Sonhar com rei dá leão", inspirado no jogo do bicho. A composição solo de Neguinho, em 1976, deu o primeiro título da história para a Beija-Flor de Nilópolis. O fato marcou a agremiação como a primeira escola de outro munícipio a sagrar-se campeã do carnaval da cidade do Rio de Janeiro e, de quebra, acabou com a hegemonia da Portela, Mangueira, Império Serrano e Salgueiro, que se revezavam na primeira posição desde 1961. 

"A criação do mundo na tradição nagô", feito por Neguinho em parceria com Gilson Dr. e Mazinho, no carnaval de 1978, trouxe para a Beija-Flor o terceiro título consecutivo. O enredo falava sobre a formação do planeta terra na visão iorubá. O carnaval da Azul e Branco, tal qual em 1976, foi desenvolvido por Joãosinho 30.

Curiosamente, este foi o ano que marcou a primeira vez do desfile na Rua Marquês de Sapucaí, local que abrigaria o sambódromo em 1984 - e que Neguinho seria tantas vezes campeão. Contudo, em 1978, o carnaval ainda era realizado em um esquema itinerante de montar e desmontar, variando a localidade a cada ano. 

O marco de ter sido um dos compositores do samba que consagrou o título pela primeira vez na Marquês de Sapucaí, mesmo sendo uma avenida provisória à época, acomoda ainda mais o astro no rol das mais reputadas figuras em toda a cronologia do maior espetáculo da terra. 

Nome oficial, câncer e casamento na Sapucaí 2n4x3g

Neguinho da Beija-Flor casou-se na Sapucaí em fevereiro de 2009
Neguinho da Beija-Flor casou-se na Sapucaí em fevereiro de 2009
Foto: Reprodução

Como já pontuado no início deste especial, a vida de Neguinho da Beija-Flor é profissional e pessoalmente atravessada pela agremiação de Nilópolis, a ponto de em 2008 o intérprete resolver fundir oficialmente o seu nome artístico ao nome de batismo. Desde então, de maneira formal, a certidão de nascimento do sambista está registrada em nome de Luiz Antônio Feliciano Neguinho da Beija-Flor Marcondes.

Neguinho da Beija-Flor com a família
Neguinho da Beija-Flor com a família
Foto: Divulgação

O registro foi feito em um cartório em Copacabana, na zona sul carioca. 

Apesar da alegria que sempre o caracterizou, o ano de 2008 não foi fácil. Diagnosticado com um câncer no intestino, o artista foi submetido à cirurgia para retirada do tumor e também ou por duras sessões de quimioterapia e radioterapia. Na ocasião, Neguinho agradeceu aos fãs e declarou que a solidariedade do pública lhe dava 'muita força para acreditar na recuperação'.  

“A vida é boa, eu nasci de novo. Eu tive essa oportunidade”, celebrou Neguinho em alusão à cura do câncer. E para festejar mais uma vitória de vida, a avenida e o carnaval, claro, deveriam se fazer presentes. Foi então que em 22 de fevereiro de 2009, antes da entrada da Beija-Flor, na Sapucaí, veio o casamento com a companheira Elaine Reis.

O casal havia acabado de conceber o nascimento de Luiza Flor, meses antes, enquanto Neguinho se recuperava da enfermidade que o acometeu. Com a autorização da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) e muitos convidados especiais, como o então Presidente Lula e o cantor Roberto Carlos, a união foi celebrada em dez minutos, diante do primeiro recuo da bateria. O local em que Neguinho ou tantas emoções, ganhava mais um capítulo marcante. 

Para coroar o matrimônio, mesmo acompanhado do médico, o cantor subiu no carro da escola e festejou. "Olha a Beija-flor aí gente!”. Não poderia ser diferente. Uma união que nunca terá fim. 

Fonte: Redação Terra
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