'A Mulher no Jardim' chega atrasado na conversa com mais um filme de terror sobre luto 3b24f
Na pior fase da carreira, diretor Jaume Collet-Serra tenta fazer 'filme cabeça', mas entrega uma história confusa e sem emoções 315b2p
Após O Babadook, terror australiano de 2014, o cinema de Hollywood parece ter redescoberto que é uma grande ideia falar sobre luto e depressão por meio do horror -- seja com criaturas, rituais ou famílias amaldiçoadas. É uma nova vertente que tomou conta do gênero, indo desde Midsommar, ando por A Bruxa e até chegar em Nós. Agora, o cineasta Jaume Collet-Serra chega atrasado nessa conversa com A Mulher no Jardim. 6j676p
Estreia desta quinta-feira, 8, o longa-metragem traz todos os elementos que o gênero já usou e abusou nos últimos anos: luto, depressão, famílias desestruturadas, uma criatura maligna representando essas emoções e assim por diante. Nada de novo no front.
Terror esvaziado em meio ao luto familiar 6v6h6t
A história acompanha uma mãe (Danielle Deadwyler) que está sofrendo profundamente após a morte do marido. Para completar, ela ainda saiu machucada do acidente que o matou, deixando-a com um gesso na perna e uma considerável dificuldade para andar. Os dois filhos se viram, mas toda a complicação familiar paira no ar como uma névoa densa.
É nesse cenário que uma mulher misteriosa aparece no jardim. Simples assim. Com marcante presença física da atriz Okwui Okpokwasili, a criatura está sentada ali, em uma cadeira, vestida inteiramente de preto, da cabeça aos pés. Ninguém sabe o que é -- apenas que se trata, sem dúvida, de uma entidade maligna, que arrasta sombras por onde a e até mesmo ceifa a vida de alguns animais no meio do caminho. A mãe tenta decifrar o monstro, mas não consegue. Tudo é engolido pela escuridão da narrativa.
Com roteiro assinado pelo novato Sam Stefanak, Collet-Serra parece aquela pessoa que conta uma fofoca que já está circulando há meses. Sem nenhum material consistente de apoio, o cineasta roda em círculos tentando encontrar substância no filme. O horror é banal, com a tal criatura despertando mais curiosidade do que medo. O diretor tenta imprimir um tom autoral, reduzindo o ritmo de sustos e acontecimentos, mas em vão. O filme soa pretensioso e arrastado, sem provocar sobressaltos ou despertar um interesse genuíno.
A decadência de um cineasta promissor 1x1a2j
Isso toma conta do espectador que, lá pela metade, não consegue deixar de submergir em um sono avassalador -- mesmo com Collet-Serra correndo para introduzir alguns sustos e tentando colocar o terror, finalmente, em primeiro plano. Tarde demais: a atenção já se perdeu e o filme naufraga em um vazio, um vórtex de pretensões sem conteúdo.
Chega a ser desconcertante a péssima fase do cineasta. No ado, o espanhol transitou com desenvoltura entre bons filmes de terror e ação, como A Órfã, A Casa de Cera, Sem Escalas, Águas Rasas e afins. A derrocada começou de fato em 2021, quando trocou seu principal parceiro de cena: saiu Liam Neeson, com quem trabalhou em quatro filmes, e entrou Dwayne Johnson, em filmes esquecíveis como Jungle Cruise e, claro, Adão Negro.
A Mulher no Jardim, que chega após o desastre com The Rock e o apenas razoável Bagagem de Risco, exclusivo da Netflix, soa como o canto desesperado de um cineasta que já foi promessa. Com um filme tão ultraado em suas propostas, fica difícil manter o interesse por projetos futuros de Collet-Serra, como Cliffhanger, com Lily James, ou Jungle Cruise 2. Faltam ideias frescas para um diretor que parece ter entrado no modo automático, aceitando projetos de produtores sem grandes ambições.
