De quantos Sharpeville o Brasil precisa para deixar de ser racista? 85f44
A discriminação é um dos idiomas principais do racismo e o assassinato de pessoas negras é o ápice de sua expressão 215o5t
Na última semana, a comoção tomou conta da nossa sociedade viciada em se comover, ao presenciar o assédio e a importunação sexual de dois homens sobre uma mulher em rede nacional no reality show mais visto e comentado do país. 7c4b
Por mais que eu seja extremamente crítica ao vício social da indignação improdutiva, jamais poderei negar que as comoções públicas são legítimas e têm total respaldo na lógica das lutas contra as opressões de raça, classe e gênero e preconceitos que as tangenciam. Principalmente no caso de uma sociedade como a nossa, onde o feminicídio mata centenas de “empoderadas” anualmente. Todas com sangue de Maria Bonita (ou Joana D’arc) morrendo nas mãos dos moços de bom coração, com seus corpos e suas regras que, infelizmente não são nossos corpos, mas estão submetidos às regras que também não fizemos.
Mas nem é esse o foco aqui.
O foco é justamente a potência da naturalização do racismo que está e sempre esteve no óbvio, legível e escancaradamente recorrente comportamento da sociedade e que está representado dentro do programa, não só dessa edição, de todas onde houve ou não negros participando.
A pergunta que não quer calar é:
diferentemente do machismo, o racismo só provoca a comoção generalizada quando tem requintes extremos de crueldade e/ou o assassinato consumado e comprovado a olhos nus">Porque ou ela começa a nos levar a alguma mudança prática que inclua o desmonte do negacionismo diante dos casos cotidianos ou precisamos começar a tratá-las como única e exclusivamente manobra de dissimulação do sadismo supremacista que se regozija diante da morte dos corpos negros e, por isso, usa a indignação como manipulação psicológica para pacificar a negritude mais desatenta que se contenta com discursos que são releituras do mito da democracia racial.