A TV brasileira tem que pensar na representatividade para além da tela 6f1z4t
É importante ter diversidade não apenas nas frente das câmeras, afinal as narrativas são tão importantes quanto a imagem 323c4n
As novelas, jornais, programas de auditórios, entre outros produtos da indústria cultural brasileira, vem aumentando paulatinamente a quantidade de pessoas negras na frente das telas, sejam atrizes, jornalistas, figurantes e apresentadores (muito menos). Hoje as crianças negras conseguem ver sua cor, seu cabelo e seus traços diversos em desenhos animados, séries infantis e programas de auditório. Contudo não é só do que se vê na tela que se vive os meios de massa. O backstage é muito maior do que muitos imaginam, e é lá que as coisas são escritas, pensadas e planejadas. 5x103q
Até pouco tempo atrás se ver representado na televisão era muito difícil. Durante esses anos muitas séries dos Estados Unidos foram o único viés de representatividade que a população negra tinha. Já nessa época era perceptível como a dublagem era pouco responsiva. Cansei de ouvir palavras racistas em dublagens. O produto dos EUA era negro, feito por negros, pensado por negros, mas ao chegar no Brasil e ser dublado palavras como denegrir, e essa é a campeã, mulato, crioulo e mestiço, essa sendo usada para enaltecer, sendo usadas demasiadamente. Ou seja, aquele produto que era para enaltecer a comunidade negra, acabou sendo um desserviço parcial por não ter pessoas negras ligadas à dublagem.
Quando saímos da perspectiva internacional e pousamos em solo nacional as coisas ganham outros tons, mas a lógica segue sendo a mesma. Não adianta você ter uma atriz negra capacitada, se quem escreve o roteiro e suas falas não entende a sutileza da representação do que ela, enquanto mulher negra, é. No contexto racista que vivemos a palavra dita por uma mulher branca não tem, geralmente, a mesma receptividade do ouvindo quando é expressada por uma mulher negra. A empatia, compreensão e boa vontade destinada para uma mulher branca ainda não alcança a mulher negra. Se uma roteirista negra está escrevendo para uma mulher negra, ela terá essa percepção e montará uma narrativa para que determinada cena entregue o que o autor espera mesmo tendo como emissora uma pessoa que o grande público não está habituado a ver naquele local. O esforço para que uma mulher negra seja vista como segura e firme, e não ser vista como grossa e raivosa, é muito diferente do caminho percorrido por uma mulher branca. O mesmo se aplica independente do gênero.
Outros elementos dentro da produção interferem. Não é todo profissional que sabe finalizar um cabelo crespo, não é todo profissional que sabe fazer uma maquiagem específica em pele negra, não é todo profissional que tem referência estética para além da eurocêntrica, não é todo profissional que entende que bater o branco para filmar uma pessoa negra é diferente para filmar uma pessoa branca, já que luz de menos vai deixar a pessoa negra escura e muita luz vai deixar a pessoa branca estourando a imagem, não à toa era comum ver imagens em que pessoas negras ficavam escurecidas. Autores e escritores de novelas, direção de elenco, produção de arte e tudo que abrange um set de filmagem, necessita, com urgência, acompanhar esse escurecimento nas telas que estamos vendo nos últimos anos.
Com isso eu não estou dizendo que tem que parar todas as produções e colocar pessoas negras. Tão pouco quero dizer que não tenham profissionais brancos capacitados para trabalhar com cabelo, pele e roupa de pessoas negras. Contudo é importante salientar que ainda hoje pessoas negras são a maioria desempregada, as que recebem menores salários, a maioria na informalidade e que não adianta a TV mostrar negros em espaços de poder na dramaturgia, se a empresa não possibilita que pessoas negras ocupem esses espaços dentro do seu corpo de funcionarios. Quantas novelas foram escritas por pessoas negras? Quantos diretores negros tem na Rede Globo de Televisão? Quantos chefes de redação negros tem nos grandes jornais? A representatividade na tela é muito importante, mas enquanto não tiver pessoas negras pensando os produtos, ficará sempre o questionamento do que é um esforço real para inserção de gente preta ou se o mínimo está sendo feito só para emular uma preocupação sobre o tema.