Estudo com erros apontados em checagem do 'Verifica' é retirado de publicação 325m6g
APÓS ANÁLISE, REVISTA CIENTÍFICA CONCLUIU QUE DADOS NÃO SUSTENTAM A ALEGAÇÃO DE QUE VACINADOS CONTRA A COVID-19 TIVERAM MAIS CHANCES DE MORRER DO QUE NÃO IMUNIZADOS 1x6772
A revista científica Frontiers in Medicine retirou de publicação, nesta sexta-feira, 16, um estudo que alegava que, a longo prazo, pessoas vacinadas contra a covid-19 registraram mais que o dobro de mortes do que as não vacinadas. A conclusão foi amplamente explorada por grupos antivacina em redes socias e blogs. 1r684u
O estudo foi alvo de uma checagem do Estadão Verifica que, em janeiro deste ano, mostrou que o Ministério da Saúde, a Fundação Oswaldo Cruz e diversos cientistas haviam apontado uma série de erros metodológicos.
O estudo é intitulado Evaluation of post-COVID mortality risk in cases classified as severe acute respiratory syndrome in Brazil: a longitudinal study for medium and long term (Avaliação do risco de mortalidade pós-covid em casos classificados como síndrome respiratória aguda grave no Brasil: um estudo longitudinal de médio e longo prazo, em português).
Ele foi assinado por uma pesquisadora vinculada à Fiocruz, Nádia Cristina Pinheiro Rodrigues. A outra autora é Mônica Kramer de Noronha Andrade, ligada ao Instituto de Doenças do Tórax, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
À época da publicação da checagem, o Verifica fez contato com as autoras do estudo. Elas afirmaram que haviam destacado o efeito protetor da vacinação a médio prazo, porém, a longo prazo, encontraram resultados que divergiam. Mas que haviam deixado claro a falta de evidência para estabelecer uma relação causal entre vacinação e aumento da mortalidade.
O Verifica entrou em contato novamente com as autoras após a retratação do artigo, mas ainda não obteve resposta. Este texto será atualizado após o envio.
Na ocasião da checagem, o Verifica fez contato com a Frontiers, que adicionou uma nota de preocupação ao estudo. A revista afirmou ter dado início a uma investigação, após ter sido procurada por instituições e pesquisadores no Brasil que apontaram as falhas do estudo e solicitaram sua retratação.
Agora, após quatro meses de análise, a Frontiers retirou o estudo de publicação. Segundo a revista, as autoras não conseguiram fornecer uma explicação satisfatória aos erros de metodologia apontados e, como resultado, as suas conclusões foram consideradas não confiáveis e o artigo foi retratado.
Ministério da Saúde, Fiocruz e pesquisadores apontam erros em estudo sobre mortes em vacinados
A revista também destacou que o pesquisador Luiz Antônio Camacho solicitou a remoção de seu nome da seção de Agradecimentos, declarando que, embora tenha sido consultado sobre um rascunho inicial do manuscrito, não endossou os métodos no estudo.
O Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (PPSP/ENSP/Fiocruz) solicitou a remoção das seções de Agradecimentos e Financiamento, afirmando que o artigo não recebeu financiamento para pesquisa ou publicação.
Os erros apontados
A revista Frontiers tornou público dois dos comentários que basearam a retratação do artigo. De forma geral, eles apontam as falhas metodológicas que já haviam sido mencionadas na checagem do Verifica.
Um dos pontos se refere ao uso inapropriado dos dados do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica (Sivep), do Ministério da Saúde, que não permite analisar mortes a longo prazo por Síndrome Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) de acordo com o status de vacinação.
Outra falha apontada foi a de que as pesquisadoras excluíram da análise registros de SRAG nos primeiros três meses dos sintomas, período em que acontece a maior parte dos casos de morte. Isso resultou em uma amostra enviesada para analisar risco de morte de acordo com a cobertura vacinal.
Mais um ponto questionado foi o fato de o estudo ter desconsiderado outras características dos pacientes, como idade ou existência de comorbidades.
"Esses problemas limitam o rigor científico do estudo e levantam preocupações mais amplas sobre seu potencial de desinformar nas discussões de saúde pública sobre a segurança e eficácia das vacinas", escreveram pesquisadores em um dos comentários publicados pela Frontiers.
Os pesquisadores que comentaram o estudo são filiados a unidades da Fiocruz no Rio de Janeiro e no Amazonas, ao Instituto de Educação Médica (Idomed), ao Hospital Pró-Cardíaco e à Faculdade de Medicina da Universidade Estácio de Sá. Sobre os erros da pesquisa, eles acrescentaram que:
"Se deixadas sem solução, essas questões correm o risco de alimentar a desinformação e podem, inadvertidamente, fornecer narrativas enganosas que minam a confiança pública em vacinas".
Também vinculados à Fiocruz, os autores do segundo comentário tornado público pela Frontiers, afirmam as limitações do estudo tornam seus resultados "puramente especulativos", o que poderia levar a interpretações errôneas e recomendações contra a vacinação da covid-19 sem evidências robustas.
