"Moda tem deixado a inclusão de lado", diz agente modelos 85g2q
Durante a pandemia, pautas de inclusão e diversidade cresceram e apareceram, com um um debate saudável e que parecia que não teria retorno. Mas a situação não é a mesma daquela época. No mundo da moda, por exemplo, parece que o "efeito Ozempic" está cada vez mais alta, com modelo muito magras cruzando as arelas e posando para campanhas. O mineiro Miguel Crispim, 42 anos, agente de modelos e famosas, como Celina Locks, faz um alerta sobre isso. 57364v
"Depois de uma abertura para a diversidade, as exigências por medidas e por padrões infelizmente estão sendo vistas novamente nas arelas internacionais. Na pandemia, vimos otimistas um forte impulso nas pautas de inclusão, mas com o ar do tempo, parte considerável da moda tem deixado tudo isso de lado. Podemos claramente ver uma redução significativa na demanda por diversidade em campanhas e desfiles", constata o agente, que também trabalha com Amira Pinheiro, modelo negra que foi recordista de desfiles no SPFW, em 2019.
Com o início da temporada de moda internacional, que realiza atualmente os desfiles 'Cruise' (entre estações) no Hemisfério Norte, Miguel segue a todo vapor exportando novos talentos brasileiros às maiores agências do mundo. "Especialmente em Paris, Milão, Londres e Nova York, muitos desfiles voltaram a priorizar padrões, remetendo aos anos 2000, com pouquíssima ou nenhuma diversidade. Esse retrocesso parece, em muitos casos, evidenciar uma conveniência daquele momento do que deveria ter sido um compromisso verdadeiro", reflete.
Radicado em Nova York, Miguel Crispim consolidou-se no mercado internacional exportando novos modelos brasileiros para agências poderosas, como Elite, que representa supermodelos como Kendall Jenner, e Supreme, que conta com Naomi Campbell no elenco, entre diversas outras gigantes do setor mundo afora. Ele é amigo e continua trabalhando com Celina Locks, modelo, empresária e mulher do ex-jogador Ronaldo Nazário.
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A visão de Miguel é confirmada por uma das principais modelos plus size do Brasil. Em entrevista recente à revista "Cláudia", em matéria que abordava justamente a volta de modelos magérrimas às arelas, Letticia Munniz foi enfática: "Sou um dos maiores nomes da moda plus size no Brasil, sempre fiz revistas, tenho seis capas, participei de editoriais, filmes, desfiles e campanhas, mas não trabalhei como modelo no ano ado."
Na mesma matéria, a revista "Cláudia" também divulgou outro dado: "Apenas 68 marcas incluíram corpos gordos nos seus desfiles de 2023, uma diminuição de 23%, segundo a plataforma de dados de moda Tagwalk", escreveu. Ou seja, a diminuição começou a ser sentida há pelo menos dois anos.
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A modelo Sued Oliveira também corrobora com a demanda atual para corpos mais magros. "Por um tempo, fomos 'tendência'. Marcas queriam mostrar inclusão, colocaram corpos reais nas campanhas, nos desfiles… e agora? Sumiram", afirmou e continuou. "Ser modelo plus size nunca foi fácil, mas sinto que estou voltando a ser invisível. Lá fora, a valorização é ainda menor. E não é por falta de talento, beleza ou presença, é porque a indústria usa a gente quando convém."
"Hoje, não querem mais corpos gordos. Querem Ozempic e Mounjaro. Querem vender a estética magra travestida de saúde, enquanto corpos como o meu voltam a ser colocados à margem. Diversidade não é moda, é necessidade. Representatividade não é campanha de uma estação, é compromisso. Eu vou continuar aqui, ocupando espaço, porque corpos como o meu e o seu merecem ser vistos, desejados e respeitados", enfatizou.
A fala de Sued pode ser confirmada em publicações nas redes sociais com milhões de visualizações, que mostram pessoas magérrimas ou que buscam a magreza como ideal, além de irem atrás de métodos milagrosos para alcançar esse objetivo, que a indústria da moda continua a incentivar cada vez mais. A volta dos anos 2000 entre as tendências, como citou Miguel Crispim, tem muito a ver com esse retorno àquela época, quando modelos como Kate Moss e Gisele Bündchen eram referência.
Calças de cintura baixa, deixando a barriga aparecer, minissaias, tops cropped dominavam as tendências 25 anos atrás. E a geração que nasceu naquela época começa a querer referenciar tudo aquilo, incentivada pelas grandes empresas de moda. Que fique o alerta.