A moda do bebê reborn: hobby ou problema de saúde? Como diferenciar? 4g204f
Para especialistas, a brincadeira é saudável e só ultraa limites quando a noção entre realidade e ficção é comprometida v305l
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Eles têm nome, enxoval, certidão de nascimento e até aparecem em consultas médicas. Os bebês reborn, bonecos hiper-realistas que imitam recém-nascidos e custam até R$ 9,5 mil, viralizaram nas redes nos últimos meses, impulsionados por vídeos que mostram as rotinas de cuidado de "mães" dedicadas.
Além disso, muitos dos vídeos virais que mostram cuidados com os bebês como se fossem reais são apenas encenações, os chamados "role plays", feitos para apresentar a arte ou gerar engajamento. "É apenas um teatrinho; depois elas guardam as bonecas. Ninguém vive essa realidade", diz Andrea.
Ainda assim, perguntada se conhece alguém que cuida em excesso dos bebês ou trata os bonecos como reais, Andrea afirma que sim, embora sejam "raros casos".
Quando há algo errado? 3f185k
Rita é enfática sobre o assunto: "Mulheres que apenas usam, colecionam ou brincam com as bonecas como um momento de relaxamento não têm problema nenhum".
Como explica o psiquiatra Alaor Carlos de Oliveira Neto, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, um hobby é saudável quando enriquece a vida, proporcionando alegria e aprendizado sem gerar consequências negativas em outras áreas.
Cruza-se a fronteira entre o hobby e um possível desequilíbrio emocional quando não se distingue o cuidado fantasioso da realidade ou a interação com a boneca afeta as responsabilidades diárias. Algumas atitudes que merecem atenção especial, segundo Neto, são:
- Trocar os relacionamentos com outros humanos pelo apego à boneca, buscando no objeto carinho e afeto;
- Deixar de cumprir responsabilidades do dia a dia, como trabalhar e estudar, para ficar com o brinquedo;
- Gastar muito dinheiro com bonecas e órios, o que pode causar problemas financeiros;
- Se infantilizar ou tratar a boneca como se fosse um bebê de verdade de forma consistente, o tempo todo, perdendo a noção de que é uma brincadeira ou coleção;
- Usar o brincar para evitar lidar com problemas emocionais, traumas, situações difíceis ou a realidade da vida;
- Usar a brincadeira para fugir de sentimentos como solidão, ansiedade ou tristeza.
Além desses sinais, Santos também destaca que sentimentos extremos são preocupantes, como reações exageradas às críticas. "A pessoa pode entrar numa depressão achando que está ando por um preconceito em relação ao seu filho, que, neste caso, é o boneco. Isso é um sinal de alerta", diz.
Outros exemplos de que a situação "ou do ponto" envolvem a preocupação por deixar os bonecos em casa "sozinhos" durante o expediente de trabalho ou não vivenciar momentos com as pessoas reais para se fazer mais presente para os brinquedos.
Por que a conexão com o boneco? 2f3d1y
E o que pode levar um adulto a criar conexão emocional com um boneco? Para os especialistas, são aspectos como a necessidade de promover cuidado e fornecer proteção a algo ou alguém; o sentimento de solidão, isolamento ou vazio; e o desejo de vivenciar, de algum modo, a maternidade ou paternidade sem a responsabilidade atrelada a essa vivência.
A interação com o bebê reborn pode ainda oferecer regulação emocional, conforto e segurança em momentos de estresse e ansiedade. Já outros podem encontrar no boneco uma fonte segura e incondicional de "afeto".
Os brinquedos também podem servir como ferramentas terapêuticas para lidar com o luto ou o Alzheimer, por exemplo. "A maior queixa que ouvimos de mães de natimortos nos hospitais é que elas não tiveram a chance de segurar os seus filhos. O luto sem corpo é um dos piores a ser elaborado", comenta Rita. Por isso, segundo a psicóloga, o cuidado com os bonecos pode ser um aliado.
Espanto é questão de gênero? 54i1x
Rita ressalta que o ato de brincar ou colecionar brinquedos é muito comum no universo masculino, mas não gera a mesma repercussão que as mulheres com bonecas. "Não vemos nenhum movimento de condenação social quando homens brincam", compara.
A psicóloga lembra que muitos homens possuem hobbies tão caros quanto um bebê reborn, como aeromodelismo, kart ou videogames de última geração. Outros colecionam itens de Star Wars ou Lego.
"Então, qual é o problema das mulheres brincarem com suas bonecas que parecem um bebezinho? São mulheres que trabalham, ganham dinheiro. Não precisam comprar uma boneca barata; elas podem comprar o melhor, assim como um homem compra o melhor videogame", diz a psicóloga.
Há ainda críticas que apontam que as colecionadoras deveriam gestar ou adotar filhos reais. "Já tem padres e pastores falando mal da gente, que precisamos de filhos de verdade. Mas isso é só um hobby, uma arte. Eu já tenho os meus filhos e até netos", desabafa Andrea.
"Também estamos falando de empoderamento feminino", afirma Rita. "A mulher pode escolher não ser mãe e, inclusive, escolher brincar de ser mãe - e não assumir esse papel com toda a seriedade que ele exige."
