“Achavam que era brinquedinho”, diz artista que recicla na maior ocupação do PR 3d163j
Morador do Caximba, periferia de Curitiba, descobre a importância ambiental do trabalho artístico e vem sendo notado b3dh
O bairro do Caximba, ao lado do Rio Barigui e na divisa com a cidade de Araucária, ficou tristemente famoso por abrigar o lixão da capital paranaense, atualmente desativado. É de lá que Cláudio Calvo recolhe e recicla metais, transformados em arte e sobrevivência.
Na Bienal do Lixo, realizada recentemente em São Paulo, peixes e grandes animais marinhos, como um polvo de metal, se destacaram. Eram do artista Cláudio Calvo, que veio “da pontinha de Curitiba”, a Ocupação 29 de Outubro, a maior do Paraná, localizada no Caximba, último bairro ao sul da capital paranaense. 59302s
A Ocupação 29 de Outubro resiste onde funcionou o lixão de Curitiba, desativado em 2009, quando a chegada de moradores se intensificou. Sete vilas compõem a ocupação que, segundo o último Censo do IBGE, tem 4.175 pessoas. Cláudio Calvo mora lá com esposa e uma filha.
Há dez anos, ele largou o trabalho de soldador e ou a fazer impressionantes objetos reciclando metais em uma pequena oficina acoplada ao barracão onde mora, e que ainda está construindo. Sua presença na Bienal do Lixo é a primeira grande exposição do trabalho no circuito das artes. Foi também a primeira viagem de Cláudio Calvo a São Paulo.
“Para mim foi muito bom, conheci um pessoal nota dez, a mente dá um estralo, você tem uma visão ampla do que é o mundo da arte”. Pela primeira vez, pagaram sua agem, estadia e alimentação. E ele vendeu duas obras. Mas sem ilusões: há muito a ser construído, como o barracão, onde falta reboco no segundo andar.
“Escritório” de Cláudio Calvo fica na feira 586h61
O material de trabalho é abundante, o artista ganha ou compra barato em um ferro velho do Caximba. Tem usada madeira e está introduzindo o plástico. A trajetória de Cláudio Calvo não começou como um projeto artístico-ambiental, mas “com o tempo, você vai vendo que isso vira uma característica do trabalho, torna mais interessante do que a própria peça”.
A oficina do artista está mais para quartinho do que ateliê. A produção é vendida na tradicional feira de artesanato do centro de Curitiba, realizada aos finais de semana. É onde Cláudio vende e faz contatos, recebe encomendas e garante o sustento da família. Da feira suas peças foram para Suíça, Estados Unidos, chegaram ao programa de Luciano Huck.
Ele tem seus truques. “A feirinha tem essa linguagem de reuso, de sustentabilidade. Levo carrinho, locomotiva, arma, garruchinha de pirata, homem gosta de colocar na área de churrasco. Mulher gosta mais de peixe, robozinho carregando pote de flor. Eu faço para os dois.”
Artista com responsabilidades em casa 3q3x1g
O que atrai Claudio Calvo em busca da matéria prima do seu trabalho é a “infinidade de tipos de materiais, um universo gigante de tamanhos, formas, cores. E depois que faz, enverniza, dá proteção e fica bonito”.
O artista é um sujeito simples, de 35 anos, aparentemente fechado, como os paranaenses. É o “bodão”, como os amigos do trabalho o chamavam. Vive um bom momento, de reconhecimento do trabalho, mas desde que pediu demissão da empresa que fabricava cofres, com família para sustentar, mantém o foco.
“Eu saí da empresa tendo a visão lá na frente, o pessoal achava que era brinquedinho. No começo, tive que fazer portão, fazer grade, precisava de trabalho, ia fazendo. Mas está dando para sobreviver da criação agora.”
Se precisar, ele faz de novo: portão, porta, grade, que arte na quebrada não é um hobby, é o corre.