Brasil poderia impedir desmatamento da Amazônia se entendesse como usar sua tecnologia; entenda 4yc3q
Desmatamento, mudanças climáticas e emissões urbanas poderiam ser combatidos com ferramentas já disponíveis no Brasil, mas a falta de coordenação limita o impacto positivo da tecnologia 4n426x
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O desmatamento da Amazônia é um dos maiores desafios climáticos globais — e o Brasil, dono da maior parte da floresta, possui as ferramentas para preservá-la. Tecnologias como inteligência artificial e sistemas de monitoramento estão à disposição. O que falta, porém, é algo menos técnico: vontade política e ação coordenada. Pelo menos é o que apontou Patrícia Pinho, diretora-adjunta de Pesquisa do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), durante o Summit Tecnologia e Inovação, do Estadão, realizado nesta quarta-feira, 14.
"O monitoramento realizado por iniciativas como o Inpe e o MapBiomas, que operam com redes abertas e multidisciplinares, já permite um acompanhamento em tempo real bastante eficiente. O problema é que, muitas vezes, as informações geradas não são aplicadas da maneira correta", explicou. "O principal obstáculo não é tecnológico, mas político, econômico e institucional. A dificuldade está na aplicação efetiva das informações disponíveis", reforçou.
Além do desmatamento, Patrícia levantou um ponto crucial que, segundo ela, recebe pouca atenção: a degradação da floresta. "Hoje, o Brasil já perdeu entre 20% e 25% da cobertura original da Amazônia. E, do que ainda resta, cerca de 40% está em estado de degradação. Isso significa que essa floresta, embora ainda de pé, já não cumpre plenamente seu papel de regular o clima e absorver gases de efeito estufa", alertou.
A degradação da floresta não afeta apenas o meio ambiente regional, mas amplia os desafios climáticos globais. Nesse contexto, o uso estratégico da tecnologia também se mostra essencial em áreas urbanas. É o que vem demonstrando o Google, com projetos que aplicam inteligência artificial para reduzir emissões de CO2 nas cidades.
Newton Neto, diretor de Parcerias do Google na América Latina, destacou iniciativas inovadoras da empresa voltadas para a redução de emissões de CO2 nas cidades. Um exemplo é o projeto Green Light, lançado em 2024, que usa dados de mobilidade urbana, coletados de forma anônima pelo Google Maps e Waze, para otimizar o tempo de espera nos semáforos.
O resultado dessa abordagem já é uma redução de até 24% nas emissões de CO2 em cidades como Rio de Janeiro e Campinas. "Ao ajustar os semáforos com base em dados em tempo real, conseguimos diminuir o tempo de inatividade dos veículos, o que tem um impacto direto na redução de gases poluentes", pontuou Neto.
Mas não é apenas a floresta ou o trânsito que exigem respostas tecnológicas. O clima, cada vez mais imprevisível, também se tornou um desafio para a inteligência artificial — e para quem depende dela para salvar vidas.
Imprevisibilidade da natureza - e da tecnologia 4g2n2g
Durante o evento, Valdivino Alexandre de Santiago Júnior, líder do Laboratório de Inteligência Artificial para Aplicações Aeroespaciais e Ambientais (Liarea) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), trouxe uma reflexão importante sobre os desafios da meteorologia em um cenário de mudanças climáticas cada vez mais imprevisíveis.
Segundo ele, a mudança nos padrões climáticos tradicionais, como os regimes de chuva e temperatura, dificulta prever eventos extremos, o que impacta diretamente as políticas de mitigação e resposta a desastres naturais. Para enfrentar esse desafio, no entanto, a inteligência artificial tem sido cada vez mais incorporada aos modelos meteorológicos.
Apesar disso, Santiago Junior afirma, sem hesitar: "Nenhuma tecnologia é perfeita". "No Inpe, fazemos previsões de desmatamento na Amazônia. Se errarmos, isso pode ter consequências sérias para a sociedade. Por isso, acredito que o ser humano precisa continuar 'no laço', especialmente em atividades com impacto direto na vida das pessoas e no meio ambiente", disse.
Em sua participação no evento, Fábio G. Cozman, coordenador do Centro de Inteligência Artificial e Aprendizado de Máquina da Universidade de São Paulo, abordou a importância da inteligência artificial (IA) no cenário global e destacou o papel fundamental que o Brasil pode desempenhar nesse contexto.
Para Cozman, o Brasil tem um potencial significativo de contribuir para a evolução da IA, mas precisa focar em áreas específicas para garantir sua relevância no futuro.
"Temos de investir agora, apoiar boas ideias e garantir que estamos criando um ambiente sustentável para o crescimento da inteligência artificial no Brasil", apontou. Cozman. Entretanto, "o Brasil só conseguirá alcançar esse status com investimentos estratégicos e a construção de uma infraestrutura robusta, que permita ao país não apenas consumir, mas também criar e inovar no campo da inteligência artificial"
Como reforça Cozman, o Brasil tem vantagens comparativas e condições reais de protagonizar a nova era digital. É, como sugeriu Patrícia, um país com recursos e ferramentas valiosas nas mãos. Falta, agora, decidir como — e quando — colocá-los em prática.
