Nábia Vilela compartilha conexão profunda com elenco de espetáculo: 'Quero eles na minha vida' 595522
Em entrevista à CARAS Brasil, Nábia Vilela revela levar paixão pessoal para os palcos e reforça conexão com colegas do musical Gente é Gente?! 355365
Nábia Vilela (46) encarna Dona Amorosa no musical Gente é Gente?, em cartaz em São Paulo até o próximo domingo, dia quatro de maio. Livremente inspirado na obra Um Homem é um Homem, do alemão Bertolt Brecht (1898-1956), o espetáculo é regado por canções de Zeca Baleiro (59) e tem grandes estrelas no elenco, como o veterano Aílton Graça (60). Em entrevista à CARAS Brasil, Nábia compartilha conexão profunda com o elenco da tragicomédia: "Quero eles na minha vida", declara. 531z1x
Brecht e Brasil contemporâneo 684k6n
No espetáculo, Nábia dá vida à Dona Amorosa, personagem que, na versão original de Brecht, é uma viúva, mas que, nesta adaptação, se transforma na dona de um cabaré. "Na nossa montagem, ela é a dona de um cabaré, o bar da Dona Amorosa. Ela é uma comerciante. Hipoteticamente, ela representa muito o que é o mercado diante desse capitalismo desenfreado em que vivemos", explica Nábia.
A personagem, segundo a intérprete, não apenas personifica o capitalismo, mas também serve como uma testemunha ocular dos movimentos de autoritarismo e militarismo que se desenrolam no espetáculo.
A atriz revela que a construção de Dona Amorosa tem sido uma experiência enriquecedora e que, nos palcos, tem se visto na personagem de formas inesperadas. "Essa mulher que a gente pode pensar também que seria hoje uma empreendedora. Esse negócio dela, essa forma dela de negociar, nada mais é do que empreendedorismo também", reflete sobre os paralelos entre sua personagem e a realidade atual.
Entre ficção e realidade 1p2i2t
Mais do que uma releitura do clássico alemão, o espetáculo funciona como um reflexo das dificuldades sociais e políticas vividas no Brasil contemporâneo. "Eu acho que esse paralelo que a Cláudia Barral e o Marco Antônio Rodrigues traçam da obra original com o Brasil contemporâneo tem a ver com muitas coisas que vivemos hoje em dia", Nábia aponta, explicando que a peça aborda temas como violência, manipulação e a desconstrução de identidades.
"A peça fala disso, nessa questão da nossa identidade, como podemos ser moldados, manipulados. A gente fala que o nosso homem vai ser desconstruído para depois ser reconstruído novamente."
A trama, de forma crítica, aborda várias formas de violência, como a violência contra a mulher, as minorias e a violência policial. Nábia explica: "A violência é uma ferramenta de controle e são muitas as violências que sofremos: a violência contra a mulher, contra as minorias, violência policial, por aí vai, a questão da nossa resistência às lutas que a gente tem no nosso dia a dia por direitos sociais, direitos humanos, a luta por justiça, a luta contra o racismo, contra a intolerância religiosa."
"A crítica à sociedade capitalista e essa desigualdade social e econômica, sabe, isso está tudo muito presente", acrescenta.
Tragédia e comédia 2u473z
Como atriz, Nábia enfrenta o desafio de interpretar uma tragicomédia que mistura o grotesco e o sublime, o riso e o desespero. "Achar o equilíbrio entre o cômico e a tragedio se deu graças à direção do Marco Antônio, que me deu muito e, foi muito cuidadoso com isso", Nábia comenta sobre o trabalho ao lado do diretor Marco Antônio Rodrigues, fundamental para construir Dona Amorosa de maneira autêntica e equilibrada, mantendo as nuances da personagem em meio às situações complexas da peça.
"Fico pensando no tom da interpretação, como manter a autenticidade da personagem, quais são as nuances dela, das situações em que ela se encontra. Penso também em como seria a conexão dela com o público, tentando um caminho para o público ter uma empatia por ela", reflete sobre o processo interpretativo. "Bom, eu tentei encontrar o equilíbrio, não sei se encontrei, mas o caminho foi mais ou menos esse."
Amizades na arte 322v6f
Nábia tem se sentido imensamente acolhida pelo elenco do espetáculo, que considera um dos maiores trunfos da peça. "O elenco realmente é um elenco muito especial. O único que eu conhecia, que eu já tinha trabalhado no elenco, era o Dagoberto Feliz, que a gente já tinha feito alguns trabalhos juntos", conta. O trabalho com o elenco tem sido profundamente significativo para Nábia, que descreve a experiência como algo além do profissional. "Quero eles na minha vida, assim, como amigos, sabe? Identifiquei muito com eles, muito", revela emocionada, destacando que, apesar de só terem dois meses de convivência, ela sente como se os conhecesse há anos.
Ela descreve o ambiente no elenco como algo único: "Cada um ali, à sua maneira, tem um lugar de muito brilho, sabe? Hoje somos três mulheres, eu, a Joyce e a Kátia. A Kátia, inclusive, foi a nossa coreógrafa e preparadora corporal. Mas foi um elenco onde tive uma acolhida. Sinceramente, como você disse, um elenco de muitas estrelas. Olha, é um elenco muito potente junto, sabe? Cada um ali com a sua especialidade. De verdade, foi um presente esse elenco."
Zeca Baleiro como parte do show 243v3m
A trilha sonora do espetáculo, com músicas do consagrado Zeca Baleiro, é uma das partes mais emocionantes da peça, e Nábia não esconde sua iração pelo trabalho do compositor. "O Zeca Baleiro, para mim, é um gênio da música. Eu já irava muito o trabalho dele. Acompanho a carreira dele desde quando ele lançou o primeiro disco", diz, emocionada.
A música no espetáculo tem um papel central, quase como uma personagem à parte, e Nábia destaca o quão rica é a contribuição do Zeca para a obra. "As músicas de grupo, a gente inicia e finaliza o espetáculo com sambas. E poder observar ele trabalhando ali de perto foi um momento de muito aprendizado, foi muito rico."
Lições com o teatro 5yi5m
Para Nábia, a personagem Dona Amorosa deixou uma marca profunda. "Eu espero que o público se emocione, que o público se divirta, que ele questione, se questione", diz ela, refletindo sobre o impacto que o espetáculo pode ter sobre a audiência.
"O que eu levo da Dona Amorosa e o que eu gostaria que o público levasse dela é isso: a reflexão, o questionamento". Ela finaliza com uma poderosa citação de uma das músicas do espetáculo, composta por Zeca Baleiro:
"Nascer, morrer. Tornar-se outro. Ser o que se pode ser. Calado falante, galante feioso. Xoxo cortês, brutal. Ser vivo antecede estar morto. E as almas dos humanos, estou certa, virarão mingau", conclui.