
'Ê, faraó': como Margareth Menezes foi de estudante de mapa astral a voz marcante do Axé 57t2g
Para a cantora e atual ministra da Cultura, o Axé "não é um ritmo só", é um movimento 2s631v
O que seria do Axé se Margareth Menezes não tivesse gravado Faraó? A letra poderia ter sido incorporada a uma outra voz, mas dificilmente teria a mesma potência. Por pouco, porém, Maga não recusou a oportunidade que mudou a sua vida. Quando recebeu o convite para cantar a música, ela conta que não levou a sério. 7b4i
- - Este é o terceiro episódio da série de reportagem Vozes do Axé, que resgata os 40 anos do gênero musical a partir da história de cantores e cantoras --Armandinho, Daniela Mercury, Margareth Menezes, Gilmelândia e Léo Santana-- que levaram esse som baiano para o mundo.
“Eu, naquela época, fazia teatro, era toda revolucionária, fazia várias coisas. Aí eu parei pensando, não, essa música ‘Ê faraó-ó-ó’, não vou gravar, não”, diz.
Mas, como boa estudante antissistema, Margareth também se debruçava sobre o universo místico.
“Eu estudava mapa astral, lia Kabbalah [escola de pensamento], eu lia Rajneesh [guru indiano], eu sempre fui assim. E aí, quando eu comecei a ler a letra da música, ‘Deuses, divindade infinita do universo, predominante esquema mitológico, a ênfase do espírito original…’. Aí pronto, eu falei, vou gravar, vou gravar. Não tinha nem ouvido a melodia, por Deus”, conta, arrancando o riso de quem a ouvia em uma coletiva de imprensa.
Mal sabia aquela Margareth, de vinte e poucos anos, que estaria gravando a música que transformaria o rumo de sua carreira. "Abriu o mundo para mim", resume.
Faraó foi sucesso no carnaval de 1987 e deu régua e como para a carreira de Margareth, então estudante de teatro e hoje ministra da Cultura. A música também consegue definir bem a própria história do Axé. É verdade que músicas do gênero não am mais o ano no topo das paradas de sucesso -- dominadas, predominantemente, pelo sertanejo --, mas é indiscutivelmente o Axé que movimenta toda a atmosfera do verão e do carnaval baiano.
Para Margareth, o que falta ser compreendido é que o Axé já está estabelecido como gênero musical.
“Ele sempre vai estar dentro dessa gangorra de acontecimentos. Às vezes, lançam a música, a música estoura, faz sucesso, outras não faz tanto.” -- Margareth Menezes
Margareth e a reverência à África 4i37l
O ponto de início oficial para o Axé foi a música Fricote, lançada por Luiz Caldas em 1975. Mas, ironicamente, a música que inaugura o gênero que é usado para reverenciar a cultura afro-brasileira tem uma letra que hoje é condenável, justamente por fazer referências negativas ao cabelo crespo. O próprio Luiz Caldas não a inclui mais em seu repertório.
Margareth, que dos 40 anos do Axé esteve presente em 38, explica que o gênero nunca teve uma intenção original de ser ligado às expressões africanas.
“Não foi nada pensado. E também o Axé não é um ritmo só. São várias fontes, por isso que eu considero como um movimento, que veio se solidificando a partir do momento também que o tempo foi ando, várias manifestações, várias formas de cantar, de trazer as claves dos ritmos africanos para cima do trio elétrico”, afirma.
Em síntese, apesar de tudo o que o Axé representa, não dá para colocar o gênero em uma caixinha. “Não pode ser uma unidade”, defende Margareth.
Suas músicas, em específico, têm íntima ligação com divindades africanas. Além de Faraó obviamente, quase toda a discografia de Margareth fazem reverência à África.
Chamado do Axé 5x686b
Em meio às obrigações como ministra, Margareth Menezes não tinha como prioridade o carnaval 2025. Mas ouviu um chamado e o atendeu.
Em dezembro de 2024, ela estava na plateia do show de Carlinhos Brown e BaianaSystem, no Candyall Guetho Square, em Salvador, quando foi convidada a subir no palco.
“Me emocionei fortemente, porque estava com muita saudade. Eu não tinha previsão de lançar música, nada disso. Foi naquela semana que a gente resolveu gravar Ramalhete de Flor. É uma música que eu fiz quando nós saímos da pandemia, quando a gente começou a fazer show. A música fala sobre isso, sobre a volta aos palcos. Sobre a chegada da música encontrando o público. Essa festa da gente festejar a vida, né? Jogar flores para a vida. Ela tem a ver com isso”, conta Margareth.
Na mesma semana, ela recebeu o convite de Ivete Sangalo para participar da música Deixa Merecer, que faz parte do álbum lançado por Veveta para o verão. Nessa agonia boa, Margareth decidiu que iria participar do carnaval.
“Foi aí que eu bati o martelo. No meio dessa vida atribulada que eu estou. Mas eu não posso deixar de também contar a minha história. Defender o que aconteceu comigo também nesses 40 anos dentro do movimento da Axé Music”, diz.
Ramalhete de Flor foi apresentada por Margareth no evento de lançamento do Trio da Cultura, encabeçado por ela, que sairá no carnaval de Salvador. Maga mostrou que, com 38 anos de carreira, conhece todos os ingredientes para fazer um bom Axé. Se tivesse lançado dancinha no TikTok, ainda arrisco dizer, a música já estaria no topo de mais ouvidas nas plataformas de streaming.