Série com Jacob Elordi resgata história brutal e pouco conhecida da 2ª Guerra Mundial 6u5c6x
Ator, conhecido por 'Euphoria' e 'Saltburn', vive prisioneiro da Segunda Guerra Mundial em 'O Caminho Estreito para os Confins do Norte', baseada em livro premiado e disponível no streaming; leia entrevistas 4d1m8
Uma vida marcada pelo amor e pela guerra. Na minissérie O Caminho Estreito para os Confins do Norte (The Narrow Road to the Deep North, no original em inglês), Dorrigo Evans tem a juventude marcada pelo encontro com Amy, a esposa do tio. O jovem reprime esta paixão proibida, até enfrentar conflitos muito maiores quando se torna prisioneiro na Segunda Guerra Mundial. Enviado à construção da ferrovia conectando Tailândia a Myanmar, ele se torna um aliado fundamental dos colegas militares, em função dos conhecimentos médicos. 4i146e
O roteiro é baseado no romance homônimo de Richard Flanagan, vencedor do Man Booker Prize. Já a adaptação audiovisual conta com uma equipe prestigiosa: na direção, Justin Kurzel, acostumado aos amores e às batalhas, após a experiência em Macbeth: Ambição e Guerra, por exemplo. Shaun Grant, colaborador habitual do cineasta, assina o roteiro, enquanto o protagonista é encarnado por dois atores de renome: Jacob Elordi na juventude, e Ciarán Hinds na maturidade.
Os cinco episódios já estão disponíveis na Universal+, acompanhando décadas na trajetória de Dorrigo — tanto as primeiras experiências quanto os traumas posteriores, quando se torna um médico respeitado. O Estadão pôde conversar com Kurzel, Elordi e Grant a respeito da série tão comovente quanto chocante em sua representação da violência.
O amor, como estrelas explodindo 4x3z23
"Flanagan explica que todos nós temos um ou dois eventos que impactam a vida inteira", lembra Grant. "No caso de Dorrigo, é o fato de se apaixonar pela Amy, naqueles primeiros minutos em que se encontram". Segundo o roteirista, a oportunidade de representar a brutalidade do amor, assim como a ternura dos soldados em meio à violência, o levou a investir neste projeto.
Elordi lembra que, para autor do livro, a sensação de estar apaixonado pode ser comparada a "fogos de artifício, ou talvez sejam estrelas explodindo. De qualquer forma, é um grande evento, algo que transforma o espaço-tempo, e nunca pode ser desfeito". O ator estima que a universalidade deste sentimento favorece a identificação com a série. De fato, o herói nunca deixa de pensar em Amy (interpretada por Odessa Young), embora se case com outra mulher.
Deste modo, era essencial a crença numa continuidade do herói, mesmo quando dois atores interpretam o personagem. Elordi e Hinds são bastante diferentes fisicamente, e tampouco se preocuparam em construir traços parecidos.
"Nós não nos preocupamos tanto com a questão da semelhança. Esta é uma série sobre a memória, e este era nosso foco", pondera o ator, conhecido pelos papéis em Euphoria, Saltburn e pela interpretação de Elvis Presley em Priscilla. "Se começarmos a copiar o estilo de andar, ou as expressões no rosto do outro, isso facilmente se torna uma caricatura. Para mim, o mais importante era o esforço em compartilhar uma essência na tela". Curiosamente, Elordi e Hinds se encontraram apenas uma vez nas filmagens.
Uma violência 'necessária' 6n4s48
Mas como combinar o romance tão delicado com imagens de cadáveres, tiros e jovens definhando devido aos maus-tratos dos inimigos? Construindo uma ferrovia enquanto mal conseguem se sustentar em pé? Para Kurzel, esta era a única maneira possível de filmar o episódio. "Afinal, a guerra é violenta! É uma experiência brutal. O que estes jovens viveram nos campos é algo sem comparação".
O diretor, acostumado às representações cruas da natureza humana (vide Os Crimes de Snowtown), contesta os espectadores incomodados com o caráter agressivo de algumas cenas. "Às vezes vemos imagens violentas nos filmes e nos perguntamos se elas eram realmente necessárias, mas nós nos confrontamos todos os dias com imagens parecidas, e reais. Era um espaço seguro nos confrontar à tragédia e ao horror".
Para ele, a série representa a rara oportunidade de resgatar os acontecimentos da Segunda Guerra pela perspectiva australiana e asiática, questionando "o que significa ser humano" neste contexto. Por isso, defende que os embates tenham "uma intensidade real". Só assim, estima Kurzel, os sentimentos amorosos e o alívio de voltar para casa se tornariam ainda mais fortes.
"Por isso, história com Amy se converte num santuário. Existe uma ternura e uma beleza extraordinária naqueles campos, pelo modo como os rapazes cuidam um do outro, como se fossem bebês. Isso se torna elementar em meio ao horror. Não é possível ter um sem o outro, e queríamos trazer ambos aspectos para garantir a autenticidade da trama", ele explica.
O sonho de qualquer ator 66495p
Embora alguns diretores deixem seu elenco livre para elaborar os personagens, Kurzel tinha um direcionamento rígido para a preparação. Cada ator precisou mergulhar nos aspectos históricos, algo comemorado por Elordi:
"Justin nos deu um verdadeiro manifesto, uma coletânea de coisas a ler enquanto nos preparávamos para o papel, diariamente. Esse é o sonho de qualquer ator. Assim eu não me sinto perdido, buscando minhas próprias referências". Entre os livros selecionados pelo cineasta, estão The Naked Island, de Russell Braddon, e Behind the Bamboo Hedges, de Mai Phuong, que apresentam lados bastante diferentes da guerra.
Durante as gravações, a selva foi convertida em múltiplos cenários, visando filmagens simultâneas. A escolha visava aproveitar ao máximo o espaço natural e proporcionar descanso aos atores em meio às cenas tão exigentes fisicamente. A câmera se posicionava à distância, com pouco equipamento de luz ou profissionais ao redor, para tornar a experiência mais "íntima e discreta".
"Eu ainda precisei filmar duas partes bem diferentes: primeiro, o amor de verão e, depois, o choque de chegar à selva pela primeira vez", o protagonista recorda. ear por diferentes cenários, lado a lado, criou uma impressão curiosa: "Era quase como estar em um parque temático, por mais estranho que isso pareça. Foi a melhor experiência que eu já tive como ator".
Um filme de cinco horas? 5t3o5r
Questionados sobre o motivo de transformarem o material em cinco episódios, ao invés de um longa-metragem, os criadores não enxergam diferença significativa entre os formatos. "Já fiz muita televisão antes, e sei que tivemos o mesmo nível de pesquisa e de dedicação que teríamos no cinema — só que, neste caso, eram cinco horas de filme, digamos", avalia Grant.
Para ele, esta era a única maneira de retratar em profundidade a juventude, crescimento e maturidade de Dorrigo. "Contar tudo isso em duas horas teria sido impossível. Acredito que O Caminho Estreito Para os Confins do Norte poderia ter sido um filme de três horas e meia. Sei que muitos espectadores ficam apavorados diante de filmes com essa duração, mas estão dispostos a maratonar cinco horas, contanto que divididas em episódios", provoca o roteirista.
Kurzel concorda: "Não entendo essa preocupação das pessoas com a duração. Não é uma questão de tempo. A questão é se mergulhamos na história ou não". De fato, ele comemora a oportunidade de apresentar sutilezas na vida do protagonista, que precisariam ser cortadas no formato do longa-metragem.
Os cinco episódios (ou cinco horas) desta bela história de amor e guerra estão disponíveis aos espectadores pelo streaming da Universal+.
