Venezuela realiza eleições legislativas com oposição dividida e Maduro buscando redobrar o poder 495543
Serão eleitos 24 governadores, 260 deputados estaduais e 285 deputados da Assembleia Nacional em um pleito que amplia os problemas das controvertidas eleições presidenciais de 2024 2b1u6x
A Venezuela ará por novas eleições neste domingo, 25, depois da controvertida disputa das presidencial de julho de 2024. Dessa vez, serão eleitos governadores e deputados estaduais e federais, em um pleito já marcado por questionamentos já que vários opositores estão presos, exilados ou inabilitados. Para completar, esta eleição também ocorrerá em Essequibo, território que Nicolás Maduro reivindica da Guiana. 5u1e5w
Serão eleitos 24 governadores, 260 deputados estaduais e 285 deputados da Assembleia Nacional. O chavismo chega com um candidato para cada Estado e espera manter a maioria na Assembleia Nacional. Já a oposição chega dividida, com María Corina Machado chamando para um boicote e Henrique Capriles defendendo que os venezuelanos saiam a votar.
Há cerca de 21 milhões de venezuelanos aptos para votar. As urnas abrem às 6h (7h de Brasília) e fecham às 18h do horário local, desde que não haja eleitores na fila. Normalmente, o horário é prorrogado e os resultados só são conhecidos à noite.
Depois da vitória contestada de Nicolás Maduro em 28 de julho, há quem se pergunte porque mais uma eleição. Além de trazer legitimidade ao regime, Maduro busca redobrar seu poder colocando mais governadores e deputados chavistas.
"Maduro precisa recuperar legitimidade política, e um simulacro eleitoral seria suficiente, em teoria, para parecer um democrata, de acordo com seus cálculos", explica a cientista política venezuelana e professora no Valencia College da Flórida, María Isabel Puerta Riera.
Oposição dividida w50
A oposição, mais um vez, está fragmentada. "A oposição chega fraturada pelas visões opostas à participação eleitoral e enfraquecida pela falta de capacidade política para concretizar a vantagem eleitoral que teve em 28 de junho", observa Puerta Riera.
María Corina, que está vivendo na clandestinidade depois das eleições de 28 de julho, chama por um boicote, com o lema "eu já votei em 28 de julho".
"O 25 de maio não é uma eleição, é uma farsa. É uma armadilha", afirmou em um vídeo divulgado em suas redes sociais. "Por isso te peço algo muito simples: este domingo, vá para casa. Não saia. Não os obedeça. Deixem as ruas vazias. Que fiquem sozinhos. Que fique claro quem tem o poder: você".
A estratégia do boicote já foi utilizada pela oposição nas eleições legislativas de 2020 e rendeu a atual maioria chavista no Parlamento. O chavismo tem atualmente 253 dos 277 deputados, além do apoio de 19 dos 23 governos estaduais. O regime quer expandir esses números e tudo indica que deve conseguir.
"A imprevisibilidade é própria das democracias ? não dá para ter certeza sobre quem vai ganhar a eleição, podem haver surpresas entre o primeiro e o segundo turno", pontua Xavier Rodríguez Franco, cientista político venezuelano e produtor do podcast Mirada Semanal.
"No caso de um regime como o da Venezuela, o cenário já está mais do que previsto. Muito provavelmente, a maior parte dos cargos em disputa vai continuar nas mãos do chavismo. A oposição se apresenta agora em circunstâncias muito, muito difíceis", avalia, destacando a divisão entre os críticos de Maduro.
Enquanto María Corina defende o boicote, outra dissidência da oposição, comandada pelo duas vezes presidenciável Capriles, busca evitar abstenções. Ele próprio é candidato a um assento no Parlamento.
"Nós, venezuelanos, temos voz, e essa voz não pode ser silenciada", escreveu Capriles em suas redes sociais. "Maduro quer um país sem esperança e resignado; não vai conseguir isso. Usaremos nosso voto para ratificar a mudança que queremos. A inação e a ividade só alcançarão a tranquilidade do poder".
"O governo cooptou alguns partidos da oposição e há outros que estão simplesmente cansados ??dessa estratégia que nunca funcionou", disse David Smilde, professor da Universidade Tulane que estuda a Venezuela há 30 anos. "Então, o que teremos é um boicote parcial, o que significa que o governo vai chegar à vitória com facilidade e pode dizer: 'Tivemos eleições, a oposição não participou'. Isso vai ser um tiro pela culatra para a oposição."
A rachadura na oposição venezuelana não é novidade. Fragmentada em várias lideranças (que já ou por Capriles, Juan Guaidó e agora se agarra a María Corina), a oposição oscila entre o boicote às eleições e à participação desde Hugo Chávez.
A exceção foi justamente a eleição do ano ado, quando distintos partidos conseguiram se unir em torno da figura de María Corina. O resultado, porém, foi o mesmo de sempre: O Conselho Nacional Eleitoral declarou Maduro vencedor sem apresentar provas. A oposição reuniu quase 80% das atas que comprovariam a vitória de Edmundo González Urrutia, candidato que substituiu a inabilitada María Corina.
Hoje, González Urrutia está asilado na Espanha, María Corina entrou para a clandestinidade e diversas outras lideranças foram presas ou fugiram do país. O site do CNE, onde deveriam estar os dados eleitorais, está fora do ar desde o dia seguinte às eleições.
No início deste mês, o CNE decidiu remover o QR Code que aparecia nas ata de apuração impressas pelas urnas eletrônicas. As ata são consideradas a prova definitiva dos resultados eleitorais.
Para Rodríguez Franco, o chavismo esvazia o sentido político do voto ? um instrumento popular para mudança ? como estratégia para fragmentar a oposição.
"Além da repressão, é o instrumento de divisão mais eficiente que o governo dispõe. Porque agora a oposição voltou a se fragmentar entre aqueles que dizem que não pode haver uma nova eleição se a anterior não for respeitada e aqueles que não querem abrir mão dos espaços políticos", observa.
No entanto, mesmo que esses candidatos de oposição conquistem alguns cargos regionais eles não poderão governar livremente, segue o analista. "Então, preservar esses espaços é muito artificial porque os prefeitos e os governadores de oposição não tem autonomia para governar — e muito menos com os cortes orçamentários impostos pelo chavismo enquanto as sanções ainda se mantém. É uma dicotomia muito difícil de resolver".
No meio dessa encruzilhada, os venezuelanos perdem a esperança no processo eleitoral. Estimativas da Data Analysis apontam uma participação eleitoral neste domingo entre 30 e 35%. "Votar pra quê?", questionou à AFP Santos Reinoza, um aposentado de 76 anos em um bairro de Caracas. "Eles roubaram as presidenciais" de 28 de julho e no domingo "vou ficar em casa".
"Vamos lutar pela vitória", disse por sua vez Yaczon Rivas, sindicalista de 46 anos alinhado ao chavismo. "As políticas que estão sendo aplicadas pelo [presidente dos Estados Unidos, Donald] Trump estão nos prejudicando, estamos enfrentando um inimigo satânico e voraz."
"Acredito que a participação será muito baixa, não apenas devido à frustração após a fraude eleitoral, mas também devido à perseguição política que continua sendo usada para intimidar a população em geral. Há medo de votar, não só pela possibilidade de fraude, mas também pelas consequências", afirma María Isabel Puerta Riera.
Prisões 123t6u
Essas eleições ocorrem em um cenário em que mais de 900 pessoas são consideradas presas políticas, segundo a ONG venezuelana Foro Penal, muitas delas nomes proeminentes da oposição, como Perkins Rocha, porta-voz de María Corina; Williams D'Avilla, deputado e aliado de Corina; María Oropeza, coordenadora do partido Vente Venezuela em Portuguesa, cuja prisão foi transmitida ao vivo nas redes; entre outros.
Na última sexta-feira, 23, o ministro do Interior, Diosdado Cabello, anunciou a prisão do opositor Juan Pablo Guanipa, a quem vinculou a uma suposta "rede terrorista" que atentaria contra as eleições legislativas.
Guanipa vivia na clandestinidade e era colaborador próximo de María Corina, que o chamava de "irmão". O opositor foi membro do Parlamento eleito em 2015, controlado pela oposição. Foi vice-presidente em 2020, quando Juan Guaidó presidia a Câmara e foi reconhecido como presidente interino da Venezuela pelos Estados Unidos, Colômbia e outros países.
Um dia antes, Maduro havia dito que mais de 50 "mercenários" haviam sido capturados. Ele acusou os homens de entrarem no país pela Colômbia, por terra e em voos comerciais, vinculados a supostos "atos terroristas" para sabotar as eleições. No mesmo dia, Caracas fechou sua conexão aérea com a Colômbia.
Desde então, o o terrestre, marítimo e aéreo ao país está , segundo uma resolução conjunta dos ministérios da Defesa e do Interior e da Justiça.
Eleições em Essequibo 3g584p
Quem fará parte das eleições venezuelanas pela primeira vez é Essequibo, a gigantesca região rica em petróleo que está em disputa há mais de um século com a Guiana.
Em tese serão eleitos o governador e oito deputados no território de 160.000 km² sobre o qual a Venezuela não tem nenhum controle.
Ninguém no próprio Essequibo poderá participar. Segundo a AFP, os centros de votação estarão no Estado fronteiriço de Bolívar, onde também vivem os pouco mais de 21.400 eleitores.
"É inabalável a nossa vontade de recuperar os direitos históricos, territoriais e para além da Guiana Essequiba", expressou o ditador venezuelano na quarta-feira, utilizando o nome atribuído ao território após um referendo de anexação em 2023.
O presidente da Guinana, Irfaan Ali, disse que o processo era uma mostra de desespero e propaganda da Venezuela, embora tenha identificado ao mesmo tempo como uma ameaça. "As eleições fraudulentas que a Venezuela busca realizar em nosso território não são apenas ilegais, são um ato de hostilidade descarada. Essa ameaça não visa apenas a Guiana. Ela mina a paz regional".
"Não existe jurisdição nem exercerão soberania", explicou Ricardo de Toma, pesquisador venezuelano do tema Essequibo no Instituto Meira Mattos no Rio de Janeiro. "A eleição é simbólica, o mandato será simbólico"
"É uma provocação, e além disso, uma tentativa de mobilizar a população apelando a um sentimento patriota", explica Puerta Riera./Com AFP e AP
