É falso que estudo tenha encontrado agrotóxico em vacinas; relatório de 2016 não tem base científica 2g3g2g
NENHUM DOS IMUNIZANTES USADOS NO SUS CONTÊM GLIFOSATO, SUBSTÂNCIA QUÍMICA USADA PARA ELIMINAR ERVAS DANINHAS 2ex1s
O que estão compartilhando: que um estudo publicado em 2016 teria identificado a presença de glifosato, uma substância química usada na agricultura para eliminar ervas daninhas, em cinco vacinas infantis. 4o2c5n
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O estudo, na verdade, é um relatório publicado por uma organização sem fins lucrativos americana, que não seguiu uma metodologia científica confiável. De acordo com o Ministério da Saúde, nenhuma vacina licenciada e disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) contém glifosato, nem como componente principal, nem como substância usada para conservar ou estabilizar o produto. De fato, as bulas dos imunizantes não listam o ingrediente. Vale reforçar que as vacinas am por testes constantes de segurança, e nunca houve um alerta para a presença de glifosato.
Saiba mais: publicado no Instagram, o post verificado exibe um vídeo em que a americana Zen Honeycutt, fundadora da organização Moms Across America, afirma ter enviado cinco vacinas infantis a um laboratório para serem testadas quanto à presença de glifosato. No vídeo, ela diz que todas testaram positivo para o herbicida.
No entanto, o teste não configura um estudo científico, como sugere a publicação. O próprio relatório afirma que os testes não têm rigor científico e são apenas exploratórios, sem caráter conclusivo.
A infectologista Luana Araújo explicou que o relatório não descreve nenhuma metodologia com o rigor científico necessário para afirmar que vacinas poderiam conter glifosato. Segundo ela, o herbicida não está presente em nenhuma vacina, seja infantil ou adulta.
O relatório apresenta supostos níveis de glifosato que teriam sido identificados em vacinas. "Aquilo é falso", disse Luana. "Qualquer valor pode ser colocado, o papel aceita tudo. A única intenção (do relatório) é gerar esse burburinho".
O documento apresenta resultados preliminares de testes realizados com vacinas de diferentes fabricantes. O imunizante dTpa, que protege contra difteria, tétano e coqueluche, era da farmacêutica Sanofi Pasteur; a vacina contra o vírus da influenza, da Novartis; a vacina contra hepatite B, da GlaxoSmithKline; a Pneumo 23 e a vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, da Merck, também conhecida como MSD.
A reportagem consultou as bulas das vacinas mencionadas — dTpa, da Sanofi Pasteur (aqui); Influenza Fluvirin, da CSL Seqirus (aqui), empresa que adquiriu o negócio de vacinas da Novartis em 2015; Hepatite B, da GlaxoSmithKline (aqui); Pneumovax 23 da Merck (aqui); e a tríplice viral da Merck (aqui). Não há menção à presença de glifosato em suas composições.
Para afirmar que as vacinas continham glifosato, a ONG americana usou um teste chamado ELISA. De acordo com o Ministério da Saúde, essa exame é inadequado para vacinas. "O próprio fabricante do teste, Abraxis, se manifestou contra esse uso indevido", afirmou a pasta.
O ministério informou que as vacinas usadas no Brasil são produzidas sob padrões de qualidade rigorosos e todas as etapas de fabricação am por controle sanitário e de qualidade. Isso inclui testes de pureza, esterilidade e ausência de contaminantes.
O processo segue normas do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), da Food and Drug istration (FDA), agência federal de alimentos e medicamentos dos EUA, e da Organização Mundial da Saúde (OMS).
"Estudos científicos sérios e revisados por pares têm avaliado a segurança das vacinas, com resultados que demonstram alta eficácia e segurança, sem evidência de contaminação por glifosato", comunicou.
O que é o glifosato?
Conhecido como o agrotóxico mais utilizado no mundo, o glifosato é o principal ingrediente ativo de diversos herbicidas empregados na agricultura para eliminar ervas daninhas. Embora tenha surgido na indústria farmacêutica, o composto se popularizou com o herbicida Roundup, da Monsanto, que atualmente pertence à Bayer. Após a patente expirar no ano 2000, o glifosato ou a ser comercializado por diferentes fabricantes, sob diversos nomes comerciais.
Como mostrou o Estadão Agro (aqui), o glifosato é um herbicida não seletivo, capaz de eliminar praticamente qualquer planta com a qual entra em contato. Após a aplicação, o composto é absorvido pelas folhas e transportado até as raízes. A substância se tornou a mais utilizada no controle de plantas daninhas, especialmente em culturas transgênicas, como a da soja.
A postagem analisada pelo Verifica afirma que o glifosato é um produto químico tóxico que comprovadamente causa câncer. Em 2015, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), vinculada à OMS, classificou o glifosato como "provavelmente carcinogênico" para humanos. De acordo com o Ministério da Saúde, essa classificação foi baseada em exposições ocupacionais em ambientes agrícolas.
A postagem também afirma que o glifosato pode causar autismo, o que é falso. Conforme mostra uma reportagem da BCC Brasil (aqui), não há nenhuma evidência científica que relacione o herbicida ao autismo. O autismo, na realidade, é um transtorno causado por fatores genéticos e ambientais.
O que é a organização Moms Across America?
Fundada por Zen Honeycutt em 2013, a Moms Across America é uma organização sem fins lucrativos dos Estados Unidos que se posiciona contra pesticidas e o uso de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), conhecidos como transgênicos.
Os OGMs são seres vivos, como plantas, animais ou microrganismos, cujo material genético foi alterado por meio da engenharia genética, com o objetivo de atribuir características específicas, como resistência a pragas ou tolerância a herbicidas. O milho e a soja geneticamente modificados são exemplos comuns de OGMs na agricultura.
A Moms Across America já apresentou outros estudos que foram desmentidos por agências de checagem. Neste ano, Snopes (aqui) e PolitiFact (aqui) apontaram que são enganosos os resultados de um estudo encomendado pela ONG sobre biscoitos das Escoteiras dos Estados Unidos. O estudo afirma ter detectado glifosato e metais pesados em 25 amostras de biscoitos em níveis superiores aos recomendados pela Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) para água potável.
Segundo especialistas entrevistados, os níveis de glifosato para cada amostra testada estão dentro dos parâmetros da EPA, considerados seguros para o consumo humano. Além disso, o estudo comparou os níveis aos limites de segurança para água, não para alimentos.
